Treinamento de habilidades psicológicas tradicional
Muito se fala sobre a possibilidade de a psicologia intervir para auxiliar atletas a otimizarem suas performance. Apesar de pouco conhecido pelo público em geral, esse tipo de intervenção já vem sendo estudada e aplicada há algumas décadas, e dentro da psicologia do esporte é conhecida como ‘Psychological Skills Training’ (PST) ou seja, treinamento de habilidades mentais.
As principais habilidades psicológicas incluem:
- Visualização: consiste em “(re)experienciar” todas as sensações oriundas de situações específicas, seja baseado em memórias ou na geração de novas situações mentalmente.
- Estabelecimento de metas: discriminar entre metas a curto, médio e longo prazo podem afetar foco de atenção, confiança, intensidade de esforço e motivação (WEINBERG; GOULD, 1999)
- Auto-instrução: habilidade verbal e multidimensional que se relaciona com a capacidade de auto-regulação cognitiva e motivação (HARDY; HALL; ALEXANDER, 2001)
- Auto-regulação: normalmente utiliza técnicas de relaxamento para controlar o nível de ativação/excitação fisiológica do atleta.
O treinamento de habilidades psicológicas normalmente se baseia na ideia de controlar estados internos (pensamentos, emoções, sensações fisiológicas), para que estes não interfiram com sua performance. Porém, Gardner e Moore (2004, 2007) apresentam argumentos em favor de uma abordagem mais eficiente baseada em ‘mindfulness’
Uma nova abordagem
De forma resumida, mindfulness remete ao conceito Budista, disseminado no ocidente por meio do programa de redução do estresse baseado em mindfulness (MBSR), de Jon Kabat-Zinn. De acordo com este autor, mindfulness se refere à capacidade de estar com a atenção voltada para o momento presente, sem julgar os pensamentos e sensações experienciados (Kabat-Zinn, 1994).
Alguns estudos demonstraram que o impacto de pelo menos 8 semanas de meditação baseada em mindfulness, principalmente pelo ênfase em se manter focado naquilo que está sentindo no momento, pode auxiliar na prevenção e diminuição de sintomas psicológicos negativos, como ansiedade, preocupação, ruminação, raiva, além de diminuir a evitação experiencial, a qual pode contribuir para a manifestação de problemas maiores. (KENG; SMOSKI; ROBINS, 2011).
No contexto esportivo, estudos vem demonstrado resultados positivos entre mindfulness e performance atlética (RAVIZZA, 2002; AHERNE; KEE; WANG, 2008; MORAN; LONSDALE, 2011). Recentemente, Gardner e Moore desenvolveram o protocolo MAC (Mindfulness, acceptance, commitment) (2004). Com base no protocolo MAC original, a intervenção deveria ser dividida em 8 sessões que incluem: (1) Psicoeducação, (2) fase de mindfulness, (3) identificação de valores e comprometimento, (4) aceitação, (5) integração e prática. Nos anos seguintes à publicação do protocolo original, ele foi modificado para 7 sessões mais flexíveis, possibilitando a aplicação do protocolo de acordo com características particulares do indivíduo, as quais incluem: Introdução e psicoeducação, introduzir os conceitos de mindfulness e difusão cognitiva, valores e comportamento guiado por valores, aceitação, comprometimento, consolidação de habilidades, e por último, manutenção dos conceitos.
Conclusão
Apesar de não ser um tema tão simples a ponto de ser discutido em apenas algumas páginas, esse trabalho teve como propósito apresentar brevemente uma forma de intervenção psicológica no contexto tanto do esporte competitivo, quanto amador, o treinamento de habilidades psicológicas (PST). Pela abordagem tradicional, o atleta é ensinado a utilizar uma gama de habilidades mentais, as quais estão envolvidas com a capacidade de motivação, auto regulação emocional e fisiológica, entre outras. A partir das limitações da abordagem tradicional, surge uma nova proposta que tem obtido resultados promissores, baseada em princípios de mindfulness, os quais incentivam os indivíduos a se concentrarem no momento presente, ignorando a valência de emoções e pensamentos, aceitando-os como eventos passageiros.
Referências Bibliográficas
Aherne C, Moran A, Lonsdale C. The Effect of Mindfulness Training on Athletes’ Flow: An Initial Investigation. The Sport Psychologist. 2011;25(2):177-189
Hardy J, Hall C, Alexander M. Exploring self-talk and affective states in sport. Journal of Sports Sciences. 2001;19(7):469-475.
Gould D, Weinberg R. Foundations of sport and exercise psychology; 2nd ed. Champaign, IL.: Human Kinetics; 2000.
Gardner, F L; Moore, Z e. A Mindfulness-Acceptance-Commitment (MAC) based approach to performance enhancement: Theoretical considerations. Behavior Therapy. 2004; 35:707-723
Gardner F L, Moore Z E. The psychology of enhancing human performance: The Mindfulness-Acceptance-Commitment (MAC) approach. New York: Springer Publishing. 2007
Kabat-Zinn, J. Wherever you go, there are you: Mindfulness meditation in everyday life. New York: Hyperion. 1994
Keng, S., Smoski, M. J., Robins, C. J. Effects of mindfulness on psychological health: A review of empirical studies. Clinical Psychology Review, v. 31, n. 6, p. 1041-1056, 2011.
Kee, Y.H., Wang, C.K.J. Relationships between mindfulness, flow dispositions and mental skills adoption: A cluster analytic approach. Psychology of Sport and Exercise, 9, 393–411. 2008
Ravizza, K. (2002). A philosophical construct: A framework for performance enhancement. International Journal of Sport Psychology, 33, 4–18.
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