MINDSET, RESILIÊNCIA E AUTO-CONHECIMENTO

MINDSET, RESILIÊNCIA E AUTO-CONHECIMENTO

Qualidades humanas são mutáveis ou fixas ?      

Quando nos deparamos com alguma situação desafiadora, principalmente em experiências novas, a capacidade de se manter resiliente, ou seja, de reagir de forma positiva e adaptativa frente à desafios ou adversidades, pode ser crucial para se tornar bem-sucedido. Ser uma pessoa resiliente é importante para qualquer atividade humana, por exemplo rendimento acadêmico (Dweck, 2006)

A crença de que as habilidades individuais são maleáveis e passíveis de melhoras pode ser definido como um ‘mindset’ de crescimento. São pessoas que sentem prazer em se engajar em situações desafiadores, e as veem como uma oportunidade de aprendizagem. Na contramão, pessoas que acreditam que habilidades individuais são inatas e estáveis ao longo da vida, dependendo de fatores fora de seu controle, ou seja, pessoas que possuem ‘mindset’ fixo, costumam evitar situações difíceis. Pessoas com mindset fixo evitam determinadas situações por medo de ser julgado e, às vezes, até por acreditarem que se fazer algo exige muito esforço, provavelmente, não nasceram para fazê-lo.

Pensando no exemplo de rendimento acadêmico, estudos recentes demonstraram como a crença de estudantes de que inteligência é uma característica estável e imutável faz com que desafios acadêmicos sejam interpretados por estes como indicadores do quão inteligente realmente são. Portanto, aqueles com mindset fixo, diante de um desafio, simplesmente aceitaram suas dificuldades como um sinal de suas inevitáveis limitações, enquanto os de mindset de crescimento interpretam o desafio como um sinal de que devem se esforçar mais, ou talvez procurar novos métodos para resolver o problema, consequentemente, aprendendo mais.

O tipo de mindset desenvolvido por cada pessoa influencia sua capacidade de resiliência. Yeager e Dweck (2012) define resiliência como qualquer resposta comportamental, emocional, e de atribuição positiva e benéfica para o desenvolvimento individual. Dessa maneira, devido ao fato de produzir reações e percepções específicas, o mindset pode resultar em padrões comportamentais e cognitivos de vulnerabilidade ou resiliência frente à desafios (Dweck et al., 1995).

Além disso, o tipo de mindset pode influenciar se as metas estabelecidas pelas pessoas irão visar aprendizagem ou evitar desaprovação social, e a crença de que esforço é algo positivo ou negativo. Finalmente, mindset afeta a forma que as pessoas atribuem seus fracassos à fatores interiores ou exteriores, ou seja, se precisam dedicar mais esforços ou se simplesmente são pessoas “burras”, o que irá colocar limites sobre todas as esferas de sua vida.

 

Mueller e Dweck (1998) demonstraram que, ao contrário do que muitos imaginam, exaltar jovens por serem inteligentes pode fazer com que se sintam incapazes diante de desafios. O que educadores e pais deveriam fazer é focar no processo, estratégias de aprendizagem, persistência, promovendo a capacidade de resiliência. Muitas vezes crenças baseadas no mindset fixo podem levar educadores a acreditarem que certos alunos simplesmente não são bons o suficiente, consequentemente, dedicando menos tempo a ele, comprometendo sua motivação e desenvolvimento a longo prazo. Alguns estudos (Rattan et al. 2012) indicaram que professores com mindset fixo delegavam menos tarefa de matemática à estudantes que “não eram de exatas”, e ao tratar o estudante baseado nesse rótulo, afetavam as expectativas deste em melhorar suas habilidades matemáticas.

Em um experimento interessante, Aronson et al (2002), influenciaram o mindset de estudantes, apresentando para algumas informações científicas sobre a plasticidade do cérebro e formação de novas conexões entre neurônios, e para outros, ensinaram que pessoas tem habilidades positivas em uma determinada disciplina e não deveriam se importar com outras. Adicionalmente, para reforçar a ideia, os dois grupos tiveram que escrever uma carta para algum remetente argumentando a favor do que haviam acabado de aprender. Um terceiro grupo de jovens simplesmente foi observado ao longo do experimento. Os pesquisadores constataram que os estudantes que foram ensinados a terem um mindset de crescimento tiveram melhoras muito mais significativas em suas notas ao final do ano escolar.

MINDSET, RESILIÊNCIA E AUTO-CONHECIMENTO mindset fixo e progressivo

Conclusão

A pessoa com mindset fixo se sente constantemente ameaçado com situações desafiadoras e se deixam definir por seus fracassos e dificuldades. Ao contrário, aquele com mindset de crescimento se vê cercado de oportunidades de aprendizagem, progresso pessoal, e interpretam fracassos ou dificuldades como uso de métodos e abordagens equivocadas para a situação. Essa forma de interpretar o mundo pode ser benéfica em diversas áreas da vida humana, como em contextos esportivos, sociais e educativos.

Esse conhecimento é relevante para aqueles na área do ensino e aprendizagem, visto que pode ser mais eficiente dedicar tempo ao jovem que demonstra dificuldades, incentivando-o a experimentar com novas alternativas, abordagens e estratégias de estudo, ao invés de oferecer formas de facilitar suas tarefas ou ser mais leniente com suas notas.

A forma de interpretar o ambiente à sua volta, seus comportamentos, pensamentos e sensações é crucial para determinar a forma que irá abordar sua vida. É importante aprender com as experiências de vida, principalmente com aquelas negativas, pois diante dessas é possível reavaliar seus métodos, aprimorá-los, desenvolver estratégias de enfrentamento (coping), evoluindo progressivamente por meio de persistência e resiliência.

 

Referências

ARONSON, J.; FRIED, C.; GOOD, C. Reducing the effects of stereo- type threat on African American college students by shaping theories of intelligence. Journal of Experimental Social Psychology, v. 38, p. 113–125, 2002

DWECK, C. S. (2006). Mindset. New York, NY: Random House

DWECK, C. S.; CHIU, C.; HONG, Y. Implicit theories and their role in judgments and reactions: A world from two perspectives. Psychological Inquiry, v. 6, p. 267–285, 1995

MUELLER, C. M.; DWECK, C. S. Praise for intelligence can undermine children’s motivation and performance. Journal of Personality and Social Psychology, v. 75, p. 33–52, 1998

RATTAN, A.; GOOD, C.; DWECK, C. S. It’s ok Not everyone can be good at math: Instructors with an entity theory comfort (and demotivate) students. Journal of Experimental Social Psychology, p. 48, v. 731–737, 2012

YEAGER, D. S., DWECK, C. S. Mindsets That Promote Resilience: When Students Believe That Personal Characteristics Can Be Developed. Educational Psychologist, v. 47, n. 4, p. 302-314, 2012.

 

 

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